A Pancreatite Aguda é uma das doenças mais comuns do trato gastrointestinal e que leva a pessoa a grandes desajustes emocionais e físicos. Está presente como a 5ª causa mais comum de mortes intra-hospitalar e a sua taxa de mortalidade pode chegar a 20% nos casos graves.
Entre as causas da Pancreatite tem a hipertrigliceridemia, hipercalcemia, trauma, medicamentos e fatores genéticos, destacamos a presença de cálculos na vesícula biliar como sendo a principal causa desencadeadora da pancreatite aguda, sendo responsáveis por 30 a 60% dos casos. A ingesta de álcool é a segunda causa mais frequente, porém existe uma grande controvérsia se o álcool não estaria sendo o responsável por causar a pancreatite aguda proveniente de exacerbações da pancreatite crônica subjacente.
A diabetes tipo II e o tabagismo são considerados fatores de risco para desencadear a doença, portanto, fique alerta e procure imediatamente o seu médico caso venha a sentir os seguintes sintomas:
– Dor na região epigástrica ou no quadrante superior esquerdo, geralmente descrita como sendo de forma intermitente, intensa, as vezes variável, com irradiação para as costas, tórax ou flanco.
Lembrando que a intensidade da dor não tem relação com a gravidade da pancreatite aguda.
O guideline do Colégio Americano de Gastroenterologia estabeleceu a presença de dois dos três fatores envolvidos no diagnóstico da Pancreatite Aguda, são eles:
– Dor abdominal compatível com a pancreatite (Descrita acima)
– Dosagem sérica de amilase e/ou lipase sendo três vezes maior que o valor de referência
– Exames de imagem com achados característicos (forte recomendação e moderada qualidade de evidência).
Lembre-se que a amilase volta aos seus valores normais dentro de 3 a 5 dias, enquanto que o da lipase permanece por mais tempo elevada, a amilase sérica pode estar normal na pancreatite aguda induzida pelo álcool e na hipertrigliceridemia. A amilase pode estar elevada nos casos de macroamilasemia, naqueles com diminuição da filtração glomerular, com doenças das glândulas salivares e úlcera gástrica. A lipase também pode estar aumentada em doenças como colecistite e apendicite.
Os seguintes critérios de gravidade devem ser observados de forma criteriosa pelo médico assistente nas primeiras 24h:
– Taquipnéia e hipóxia
– Taquicardia e hipotensão
– Encefalopatia
– Oligúria
– Hemoconcentração
– Idade maior que 55anos
– Índice de massa corporal (IMC) maior que 30.
Abro um parêntese aqui para chamar atenção ao fato da obesidade ser um dos fatores de gravidade ou complicador da pancreatite e de inúmeras outras doenças, desta forma, precisamos parar de dar tanta atenção à indústria dos fast food que tentam sobrecarregar a população com alimentação nada nutritiva, deixando as pessoas superalimentadas e pouco nutridas. E isso leva a um ciclo vicioso onde o corpo ou organismo superalimentado logo desejará mais alimento devido à grande carência nutricional dos alimentos ingeridos. Como resultado, a obesidade se faz presente junto com o sedentarismo e assim levando a várias complicações de saúde.
Entre os escores utilizados para Pancreatite Aguda o de APACHE II continua sendo o mais utilizado no contexto emergencial, sendo a pancreatite aguda grave considerada com o escore APACHE II maior que oito.
Os principais marcadores bioquímicos de gravidade na pancreatite aguda são:
– Hematócrito maior que 44% para os homens e maior que 39,6% para as mulheres (Na admissão ou nas primeiras 24h).
– Creatinina sérica maior que 1,8mg/dl dentro de 48h.
– Proteína C reativa maior que 150mg/L está relacionada com a presença de necrose pancreática, tendo sensibilidade e especificidade maior que 80%, quando dosados 48h após os sintomas.
As três principais complicações da Pancreatite são a formação de pseudocisto pancreático, a necrose pancreática e o abscesso pancreático.
Todos estes são diagnosticados através de exames de imagem como a tomografia de abdome com contraste e a ressonância magnética.
O tratamento deve ser estabelecido o mais rápido possível, sempre levando em consideração a presença ou não de gravidade, observando os sinais vitais do paciente de 4/4h nas primeiras 24/48h, proporcionar conforto ao paciente através do uso de analgesia adequada, dieta zero até a ausência de dor e vômitos; caso a dor se prolongue por mais de 03 dias deve-se alimentar o paciente através de sonda nasoenteral para evitar desnutrição. Existem evidências atuais mostrando que o retorno da dieta oral do paciente com uma refeição completa é mais benéfico ao paciente do que o retorno gradativo da dieta. Outro ponto de suma importância no tratamento é a hidratação venosa agressiva, pois pode atenuar a necrose pancreática e melhorar a insuficiência orgânica, impactando assim na diminuição da mortalidade.
Outros fatores a serem observados no tratamento: corrigir as alterações metabólicas e eletrolíticas, manter o suporte nutricional, antibióticos em casos selecionados, realização de colangiopancreatografia retrógrada e endoscópica nos casos de pancreatite aguda biliar e tratamento cirúrgico.
Todos os casos de pancreatite aguda leve ou grave deve sempre ser acompanhado de perto pelo seu médico gastroenterologista.
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